Qual a diferença entre as taxas de administração e a rentabilidade real no consórcio e como afeta a sua compra?

19 de nov. de 2025

Márcio Afonso Ereno, CFP®, responde:

Em tempos de Selic alta, o consórcio pode ser uma boa alternativa para quem pensa em adquirir um bem móvel ou imóvel e quer fugir dos altos juros de um financiamento. Dados da Associação Brasileira das Administradoras de Consórcios (ABAC) mostram que as adesões ao consórcio bateram recorde em 2024, mas é necessário entender alguns pontos como taxa de administração e a rentabilidade real neste tipo de financiamento.

O consórcio é uma forma inteligente de adquirir bens sem pagar juros, pois no consórcio o que é cobrado são taxas para administrar os valores e muitos consumidores ainda se confundem entre dois conceitos fundamentais: taxa de administração e rentabilidade real. Entender a diferença entre eles é essencial para avaliar se o consórcio realmente cabe no seu planejamento financeiro.

A taxa de administração é o valor cobrado pela administradora do consórcio para gerir o grupo de cotistas (pessoas que fazem parte do grupo). Funciona como uma remuneração pelo serviço prestado, ou seja, pela organização, gestão das assembleias, sorteios, contemplações e garantias de que todos os participantes cumpram as regras do grupo. Essa taxa é expressa em percentual sobre o valor do crédito contratado e diluída ao longo das parcelas.

Por exemplo: se você adere a um consórcio de R$ 100 mil e a taxa de administração é de 20%, pagará R$ 120 mil no total, já que os 20% são adicionados gradualmente ao valor das prestações. É importante lembrar que essa taxa não equivale a juros, mas, na prática, ela reduz a eficiência do seu investimento, pois representa um custo embutido.

Já a rentabilidade real é um conceito menos óbvio no universo dos consórcios. Como o dinheiro das parcelas fica aplicado enquanto você ainda não é contemplado, o poder de compra da carta de crédito depende diretamente da inflação e do reajuste aplicado pelo consórcio. Se o crédito é corrigido por algum índice (como INCC, IPCA ou tabela da montadora), e a inflação sobe mais que o reajuste, o valor “real” da sua carta de crédito diminui com o tempo.

Em outras palavras, a rentabilidade real mede o quanto o seu dinheiro mantém ou perde poder de compra ao longo do tempo. Se o reajuste do crédito for inferior à inflação, você estará pagando mais caro por algo que vale menos, mesmo sem perceber. Esse é um dos principais motivos para muitos consorciados se decepcionarem ao serem contemplados e perceberem que o crédito não compra mais o bem desejado.

No planejamento financeiro, a diferença entre taxa de administração e rentabilidade real tem impacto direto. A primeira representa um custo fixo e previsível, enquanto a segunda depende do comportamento da economia e do tempo de espera até a contemplação. Quanto maior o prazo, maior o risco de perda de poder de compra, especialmente em períodos de inflação elevada.

Por isso, antes de entrar em um consórcio, é essencial analisar quanto você está disposto a esperar e qual é a perspectiva de reajuste do crédito. Se o objetivo for uma compra de médio prazo e o consórcio tiver taxa de administração competitiva (até 20%, por exemplo), pode ser uma boa alternativa a financiamentos com juros altos. Mas se você precisa do bem em curto prazo ou acredita que a inflação será alta, talvez seja melhor investir o dinheiro e comprar à vista mais adiante.

Em resumo, o consórcio é um instrumento eficiente de planejamento e disciplina financeira, desde que o consumidor entenda claramente o custo de administração e os efeitos da inflação sobre o crédito. Saber separar essas duas variáveis é o primeiro passo para fazer um bom negócio e garantir que o sonho da compra planejada não se transforme em uma perda silenciosa de poder de compra.

Márcio Afonso Ereno é planejador financeiro pessoal e possui a certificação CFP® (Certified Financial Planner), concedida pela Planejar - Associação Brasileira de Planejamento Financeiro.
Email:
marcio.ereno10@gmail.com

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