Quais estratégias podem ajudar a criar e manter uma reserva de emergência, mesmo com uma renda variável?

19 de nov. de 2025

Renan Massoto, CFP®, responde:

Reserva de emergência é o nome dado ao dinheiro guardado para cobrir gastos imprevistos, inesperados e urgentes. Normalmente, quando alguém dá seus primeiros passos na educação financeira, a primeira missão é justamente formar essa reserva. Contudo, concluir essa tarefa pode ser mais difícil do que se imagina, sobretudo para quem tem renda variável.

Muitos profissionais vivem a realidade da oscilação de receitas: um mês pode trazer ganhos acima da média, enquanto o seguinte apresenta resultados mais modestos. Essa variação é comum entre autônomos, empreendedores, prestadores de serviços e trabalhadores que recebem por comissão. A irregularidade na entrada de recursos, somada à dificuldade de prever exatamente quanto estará disponível, costuma ser a principal barreira para construir e manter um fundo de emergência.

Para criar a reserva de emergência, o primeiro passo é determinar o valor necessário. Definir um objetivo é o alicerce de qualquer planejamento financeiro, pois dá clareza sobre onde se quer chegar e segurança para executar as estratégias. O cálculo da reserva de emergência parte da soma das despesas fixas mensais — alimentação, moradia, contas de consumo, transporte, mensalidades escolares e outros compromissos recorrentes. Recomenda-se acumular o suficiente para sustentar pelo menos seis meses dessas despesas. Para quem tem renda variável, ampliar a margem para até um ano é uma forma de garantir tranquilidade adicional.

Com o valor-alvo definido, é hora de estruturar como chegar lá. Quem tem salário fixo, normalmente, destina uma quantia específica para a reserva mensalmente. Já para quem recebe de forma variável, essa estratégia pode falhar nos meses mais apertados. Uma alternativa mais realista é reservar um percentual do que se ganha, de preferência a partir de 20%. Dessa forma, quando a renda aumenta, o aporte também cresce. Para equilibrar, vale ainda estabelecer um piso mínimo: mesmo nos meses mais difíceis, uma pequena aplicação mantém a consistência do hábito.

Outro ponto central é onde aplicar os recursos. Por se tratar de um dinheiro destinado a emergências, a prioridade deve ser liquidez e segurança. Produtos de renda fixa de baixo risco, como o Tesouro Selic ou fundos de liquidez diária, cumprem esse papel. É importante resistir à tentação de buscar retornos mais elevados em ativos voláteis, já que a reserva não deve estar sujeita a perdas em momentos críticos.

A revisão periódica também faz parte do processo. Gastos fixos tendem a variar ao longo do tempo, seja por aumento de custos, seja por mudanças no padrão de vida. Ajustar o valor da reserva garante que ela não perca efetividade. O mesmo raciocínio vale para a renda: quando ela crescer, aumentar proporcionalmente os aportes acelera a conquista da meta.

Uma prática que pode facilitar a vida de quem tem renda variável é a criação de um “fundo amortecedor”. Esse fundo funciona como um colchão de curto prazo, destinado a sustentar um ou dois meses de despesas fixas. Ele pode ser constituído antes mesmo da reserva de emergência completa e atua como um estabilizador: nos meses em que a receita fica abaixo do esperado, é possível recorrer a esse fundo, preservando tanto o orçamento doméstico quanto a continuidade dos aportes à reserva principal.

No fim, a construção da reserva de emergência exige mais do que cálculos — pede disciplina, constância e visão de longo prazo. Para quem lida com renda variável, ela se torna ainda mais estratégica, pois é justamente nos momentos de instabilidade que a segurança financeira faz diferença. Mais do que um hábito saudável, é uma ferramenta de proteção para atravessar imprevistos sem comprometer o futuro.

Renan Massoto é planejador financeiro pessoal e possui a certificação CFP® (Certified Financial Planner), concedida pela Planejar - Associação Brasileira de Planejamento Financeiro.
E-mail:
renan.massoto@gmail.com

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Época Negócios