Investidor qualificado tem mais acesso a crédito?

8 de set. de 2025

Graziela Silva, CFP®, responde:

De acordo com a Resolução nº 30 da CVM, investidores qualificados são aqueles que possuem mais de R$ 1 milhão investidos e que atestam formalmente essa condição. Mas será que alguém com esse nível de patrimônio recorreria a um empréstimo?

No mercado financeiro, o uso do crédito por quem já tem recursos investidos costuma gerar opiniões bem diferentes. De um lado, há quem prefira distância de qualquer tipo de dívida. Do outro, investidores que enxergam o crédito como uma ferramenta estratégica para alavancar resultados.

É verdade que muitos evitam o endividamento, principalmente em linhas com juros elevados, mas isso não significa que o crédito esteja fora da realidade de quem investe. Ele faz parte da vida da maioria dos brasileiros, seja por meio do cartão de crédito ou um financiamento de imóvel, por exemplo.

O crédito pode ser uma solução inteligente em algumas situações: preservar uma carteira de investimentos, aproveitar uma boa oportunidade ou financiar um projeto com mais eficiência. Quando bem utilizado, ele pode acelerar metas sem comprometer a saúde financeira.

Mesmo investidores qualificados, com acesso a condições diferenciadas, passam por análises criteriosas. O crédito para esse público exige uma abordagem personalizada, considerando além do montante investido, e entendendo o comportamento financeiro, os objetivos e o histórico do cliente.

Entre os primeiros critérios avaliados está a capacidade de pagamento: ter mais de R$ 1 milhão investido não garante, por si só, um bom histórico com crédito. Já quem tem operações bem conduzidas, pagamentos em dia e relacionamento duradouro com o banco tende a ter uma análise mais favorável.

Outro fator relevante é a estrutura patrimonial e a oferta de garantias. Muitos investidores utilizam aplicações como CDBs ou fundos de renda fixa como garantia, o que reduz o risco para a instituição e garante taxas de juros bem mais atrativas. Dependendo do cenário, essa operação faz mais sentido do que resgatar investimentos, mantendo sua estratégia de longo prazo.

Também é cada vez mais comum que os bancos que atendam esse cliente perguntem o motivo do crédito, como uma forma de entender se há planejamento por trás da decisão. Por exemplo, quando um investidor busca crédito para aplicar em algo que tende a render mais do que o custo da dívida, isso costuma ser bem-visto. Por outro lado, o uso frequente de crédito para cobrir despesas do dia a dia pode acender um alerta.

Além disso, a análise de crédito leva em conta vários fatores: o tempo de relacionamento com a instituição, a renda e até o nível de interação do cliente com o banco. Muitos têm políticas internas que favorecem quem já construiu um bom histórico. Quando o banco enxerga proximidade, consistência e responsabilidade na forma como o cliente lida com o dinheiro, tudo se torna mais fácil. E quanto mais alinhado o perfil do cliente com os critérios da instituição, maiores as chances de conquistar condições mais vantajosas, com taxas menores.

O uso do crédito deve ser uma ferramenta de apoio no planejamento financeiro, desde que utilizado de forma consciente, com clareza dos objetivos e dos impactos sobre o orçamento. Isso vale inclusive para quem já tem uma posição consolidada no mercado.

Graziela Silva é planejadora financeira pessoal e possui a certificação CFP® (Certified Financial Planner), concedida pela Planejar - Associação Brasileira de Planejamento Financeiro.
E-mail:
graziela.a.silva83@gmail.com

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