Como rebalancear a carteira de investimentos?

20 de out. de 2025

Eron Zotelli, CFP®, responde:

O brasileiro Amyr Klink foi o primeiro e único homem a cruzar o Atlântico Sul em um barco a remo. O navegador percorreu cerca de 7 mil quilômetros, levando aproximadamente três meses para concluir a travessia. Essa experiência está descrita no best-seller Cem dias entre o céu e o mar. Para realizar essa façanha, foram mais de dois anos de preparação. Ainda assim, ao longo da jornada, ele precisou realizar diversos ajustes para se manter dentro da rota planejada.

Assim como na navegação, no mundo dos investimentos também são necessários ajustes de rota. Para atingir uma meta financeira, é preciso superar diversos imprevistos que surgem ao longo do caminho. O rebalanceamento de carteira é justamente esse processo de corrigir periodicamente desvios, para manter a estratégia alinhada ao objetivo inicial.

Um dos principais objetivos do rebalanceamento é manter o nível de risco dentro do planejado. O risco adequado é definido a partir de diversos fatores, entre eles o horizonte de investimento. Metas de curto prazo exigem mais liquidez e menor volatilidade. Já metas de longo prazo permitem maior volatilidade em busca de retornos mais altos.

Com o passar do tempo, as mudanças no mercado podem distorcer a composição da carteira. Ativos com melhor desempenho tendem a representar um peso cada vez maior na estratégia, enquanto os ativos com desempenho inferior perdem peso. Ou seja, sem o rebalanceamento, a carteira pode se tornar mais arriscada ou mais conservadora do que o planejado. Esse desbalanceamento passivo é natural, mas pode prejudicar o atingimento das metas caso não seja corrigido.

Estar com um peso desproporcional em uma classe de ativos no momento errado pode custar caro. Um exemplo histórico é o do Lehman Brothers, tradicional banco de investimentos dos Estados Unidos. Em 2008, ele possuía alta exposição em ativos ligados ao setor imobiliário. Mesmo sendo considerado resiliente, o setor foi severamente afetado pela crise do subprime, e essa concentração contribuiu diretamente para a falência do banco.

A eficiência de uma estratégia de investimentos depende, em grande parte, da disciplina em rebalanceá-la ao longo dos anos. A periodicidade varia de acordo com cada investidor. O ideal é estabelecer prazos fixos para evitar que a carteira permaneça em desequilíbrio por muito tempo. Ou seja, assim como Amyr Klink ajustava periodicamente o rumo de seu barco para alcançar a costa brasileira conforme o planejado durante a travessia do oceano, o investidor também deve realizar ajustes regulares em sua carteira.

A maior dificuldade para o investidor sempre será deixar de lado decisões emocionais e seguir ajustes de forma racional, dentro dos prazos predefinidos. Navegar no mundo financeiro exige atenção constante às mudanças, sejam elas oscilações de mercado ou alterações de objetivos pessoais. Por isso, contar com a orientação de um profissional qualificado, que conheça bem o “mar” a ser navegado, pode ser decisivo para conduzir a carteira com segurança até o destino planejado.

Eron Zotelli Coelho é planejador financeiro pessoal e possui a certificação CFP® (Certified Financial Planner), concedida pela Planejar - Associação Brasileira de Planejamento Financeiro.
E-mail:
eronzc@gmail.com

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Confira a publicação original do artigo: Valor Econômico