
Como identificar e evitar promessas de investimentos com retornos irreais?
17 de out. de 2025
Karoline Cinti, CFP®, responde:
A origem da palavra “investir” carrega consigo a ideia de aplicar recursos em algo com o objetivo de obter retorno, o que pode ser aplicado a vários contextos da vida: investimos tempo, atenção e afeto para criar vínculos significativos e manter relacionamentos; cuidamos do corpo e da mente, com horas de atividades físicas e terapias, buscando ter saúde; nos dedicamos por anos aos estudos e às práticas profissionais para poder crescer na carreira. Nenhuma conquista relevante e significativa acontece sem esforço. Por que, então, nas finanças isso seria diferente?
A promessa de ganhar dinheiro fácil — sem esforço ou risco — soa tentadora, porque mobiliza nossas emoções. A psicologia econômica vem demonstrando que não somos seres tão racionais assim. Diante de estímulos como retorno elevado e rápido, urgência na tomada de decisão ou validação por figuras públicas ou afetivas, a depender das contingências, podemos estar mais ou menos suscetíveis a agir de forma impulsiva em vez de autocontrolada, motivados pelo desejo de resolver rapidamente um problema (alívio) ou aproveitar uma suposta oportunidade (recompensa).
Não apenas características ligadas à nossa espécie, como a sensibilidade a reforçadores imediatos, mas também nossa cultura — isto é, normas, expectativas e valores transmitidos pela sociedade, como narrativas que exaltam o sucesso rápido e a esperteza, influenciam os nossos comportamentos. O tal “jeitinho brasileiro”, que tanto valoriza nossa maneira criativa e versátil em lidar com situações problemáticas, mas que frequentemente envolvem a quebra de regras e prejuízos a terceiros, a fim de se obter vantagens, é socialmente validado e aparentemente bem-sucedido.
Esse cenário se agrava quando estamos em ambientes marcados por incertezas econômicas. O aumento do custo de vida, as dúvidas sobre o próprio futuro (aposentadoria, empregabilidade etc.) e a pressão por estabilidade financeira podem intensificar a busca e a aceitação por alternativas de renda e segurança, como propostas milagrosas de retornos irreais. Quando o contexto reforça a urgência por resultados rápidos, comportamentos impulsivos são mais prováveis. Isso explica o crescimento de golpes de investimentos (pirâmides financeiras, falsas plataformas etc.) e de casas de apostas (como as “bets”).
As redes sociais, por sua vez, amplificam esse efeito: ali, vemos constantemente vidas idealizadas, ganhos extraordinários e recomendações de pessoas com alta influência, funcionando como um palco contínuo de comparação social e exposição a supostas oportunidades sedutoras — mecanismos clássicos de manipulação baseados em escassez, validação social e autoridade.
Porém, ninguém nasce ingênuo ou desconfiado. Aprendemos a confiar, ou não, com base nas consequências de nossas ações ao longo da vida. Se, ao confiar, recebemos afeto, segurança ou retorno financeiro, é provável que esse comportamento se repita. O mesmo vale para atitudes impulsivas, que já funcionaram antes, em outras situações, e nunca foram punidas.
Ainda assim, nossos instintos de autopreservação podem ser aliados, bem como nossa história também pode nos ensinar a parar, refletir e identificar sinais de alerta. Com atenção e autoconhecimento, é possível perceber quando algo parece suspeito, resistir a impulsos e fazer escolhas mais alinhadas com nossos objetivos, valores e realidade, considerando um período maior de prazo. Resultados consistentes exigem planejamento, diversificação e paciência.
Investimentos financeiros significam aplicar um capital com a expectativa de um benefício futuro, normalmente por meio de instrumentos como poupança, títulos públicos, ações, fundos de investimento ou imóveis. O mercado financeiro legítimo opera com base em riscos proporcionais ao retorno esperado: quanto maior a rentabilidade potencial, maior o risco envolvido. Ou seja, não existem garantias absolutas de lucro. Além disso, instituições sérias são reguladas por órgãos como a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e o Banco Central (Bacen), e podem ser facilmente consultadas.
Qualquer proposta que ofereça retorno muito acima da média do mercado — especialmente sem explicar claramente os riscos e ainda exigir atitude imediata — é um indício de golpe e, portanto, deve ser visto com desconfiança. Um bom planejador financeiro, preferencialmente certificado CFP®, pode ajudar na tomada de decisões mais conscientes e sustentáveis. Em tempos de muitas promessas, trabalhar o senso crítico e o autocontrole talvez seja o investimento mais importante a se fazer.
Karoline Cinti é planejadora financeira pessoal e possui a certificação CFP® (Certified Financial Planner), concedida pela Planejar - Associação Brasileira de Planejamento Financeiro. E-mail: karolinecinti@mentoryco.com
As respostas refletem as opiniões do autor e não do site ÉpocaNegócios.com ou da Planejar. O site e a Planejar não se responsabilizam pelas informações acima ou por prejuízos de qualquer natureza em decorrência do uso destas informações.
Confira a publicação original do artigo: Época Negócios

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