Como os índices de referência, como CDI, IPCA e Selic, influenciam a rentabilidade dos investimentos?

30 de jul. de 2025

Rafael Monteiro, CFP®, responde:

Quando você começa a organizar sua vida financeira, é comum se deparar com siglas que mais parecem outro idioma: CDI, CDB, Selic, DI, IPCA. Em meio à busca por sair do endividamento ou dar os primeiros passos em direção a um planejamento financeiro, entender esses conceitos se torna essencial.

Uma das primeiras siglas que pode aparecer é o CDI (Certificado de Depósito Interbancário). Mas o que isso tem a ver com seus investimentos? O CDI é um título utilizado para empréstimos entre bancos no fim do dia, com o objetivo de equilibrar o caixa das instituições. A média das taxas desses empréstimos forma a chamada taxa DI — ou simplesmente taxa CDI — usada como referência para diversos tipos de investimento.

Por exemplo: ao aplicar em um CDB (Certificado de Depósito Bancário) que rende 100% do CDI, você estará sendo remunerado de acordo com a taxa DI do período. Se ela for de 10% ao ano, o seu rendimento será exatamente esse percentual, antes dos impostos.

Mas é importante considerar a tributação. O Imposto de Renda (IR) incide apenas sobre os rendimentos e varia conforme o tempo em que o dinheiro permanece investido. A alíquota vai de 22,5% para aplicações de até 180 dias, chegando a 15% para prazos superiores a 720 dias. Portanto, manter o investimento por mais tempo pode resultar em um retorno líquido mais vantajoso.

Você pode se perguntar: "o que faz a taxa DI subir ou cair?" A resposta está na taxa Selic, que é a taxa básica de juros da economia brasileira. Ela é definida pelo Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) e serve como referência para os juros cobrados e pagos em toda a economia. Quando a Selic sobe, a taxa DI também sobe — e o rendimento dos seus investimentos tende a acompanhar esse movimento, desde que sejam pós-fixados (ou seja, que variam de acordo com essa taxa). O mesmo acontece no sentido contrário: com a queda da Selic, o rendimento também tende a diminuir.

Nesse cenário, surge outro fator essencial: a inflação. A inflação, medida pelo IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) representa o aumento dos preços ao longo do tempo e tem impacto direto sobre o nosso poder de compra — ou seja, quanto conseguimos comprar com o mesmo valor de dinheiro.

A inflação também influencia as decisões do Copom sobre a Selic. Quando as expectativas de inflação aumentam, o Banco Central tende a elevar a taxa Selic para conter o consumo, encarecendo o crédito e reduzindo a circulação de dinheiro. O objetivo é controlar a inflação e manter a estabilidade econômica.

Para ilustrar, imagine que você aplique R$ 100 em um CDB que rende 100% do CDI. Se a taxa DI for de 10% ao ano, você terá, ao final de 12 meses, R$ 110 — antes da dedução de impostos. Agora, se a inflação no mesmo período for de 5%, significa que uma cesta de produtos que custava R$ 100 passa a custar R$ 105. Assim, o ganho real do seu investimento, desconsiderando os impostos, é de R$ 5 — o suficiente para manter o seu poder de compra.

Nós, ao buscarmos melhorar nossa relação com o dinheiro, precisamos ir além da simples aplicação. Investir com consciência significa compreender como variáveis econômicas, como Selic e inflação, influenciam os resultados das nossas escolhas financeiras. Ao entender esses fatores, somos capazes de alinhar nossos investimentos com nossos objetivos e perfil, escolhendo prazos adequados e formas de aplicação que preservem e valorizem nosso patrimônio ao longo do tempo.

Com esse conhecimento, é possível estruturar um planejamento financeiro que realmente funcione: com metas claras, controle de gastos, redução de dívidas e a escolha de investimentos mais adequados ao cenário econômico. Afinal, não basta apenas rentabilizar — é preciso garantir que nossos investimentos acompanhem ou superem a inflação para que, no futuro, possamos consumir com a mesma tranquilidade de hoje.

Rafael Monteiro é planejador financeiro pessoal e possui a certificação CFP® (Certified Financial Planner), concedida pela Planejar - Associação Brasileira de Planejamento Financeiro.
E-mail:
rafael_geografia@yahoo.com.br

As respostas refletem as opiniões do autor, e não do site ÉpocaNegócios.com ou da Planejar. O site e a Planejar não se responsabilizam pelas informações acima ou por prejuízos de qualquer natureza em decorrência do uso destas informações.