Qual é a proporção ideal entre renda fixa e variável?

21 de jul. de 2025

Marlan Morais, CFP®, responde:

A definição da proporção ideal entre renda fixa e renda variável exige uma abordagem estratégica, considerando as diferentes fases da vida financeira do investidor, seu perfil de risco, objetivos e prazos para alcançá-los. Essa alocação deve ser dinâmica e ajustada ao longo do tempo, refletindo não apenas a idade, mas também as condições econômicas do país e o cenário de mercado.

De modo geral, investidores mais jovens, entre 20 e 30 anos, tendem a tolerar maiores níveis de risco, uma vez que estão em fase de construção de patrimônio e dispõem de mais tempo para recuperar eventuais perdas. Nessa etapa, é comum uma alocação mais agressiva, com maior exposição à renda variável, a depender do perfil individual.

Na faixa dos 30 aos 50 anos, inicia-se um processo de reequilíbrio do portfólio. Ainda que a renda variável continue representando uma parcela significativa dos investimentos, muitos investidores optam por aumentar gradualmente sua exposição à renda fixa, visando maior estabilidade e previsibilidade.

Já entre os 50 e 60 anos — fase de pré-aposentadoria — o foco se volta para a preservação de capital. Nesse estágio, a maior parte dos recursos tende a migrar para ativos de renda fixa, com o objetivo de evitar oscilações intensas que possam comprometer o patrimônio acumulado. Isso ocorre porque o tempo para recuperar perdas se torna mais curto, exigindo estratégias mais conservadoras.

Apesar das etapas distintas da vida financeira, historicamente o investidor brasileiro tende a concentrar a maior parte de seus recursos em ativos de renda fixa. Um dos principais fatores é o elevado nível das taxas de juros no Brasil, que frequentemente se mantêm em patamares de dois dígitos. Tal realidade desencoraja a tomada de risco e favorece aplicações conservadoras.

A inflação é outro fator crucial nesse cenário. O Brasil possui um histórico inflacionário preocupante. Desde a implementação do Plano Real, em 1994, a moeda brasileira já perdeu cerca de 90% de seu poder de compra. Isso significa que R$ 100,00 em 1994 equivalem a aproximadamente R$ 10,00 hoje, em termos reais. Esse fenômeno impulsiona os investidores a buscarem ativos que, no mínimo, preservem o valor do dinheiro ao longo do tempo.

Além disso, é comum que investidores brasileiros sejam taxados de “rentistas” por priorizarem a renda fixa. No entanto, essa preferência se justifica quando se observa, por exemplo, a taxa básica de juros atual (Selic), que está frequentemente acima de 14% ao ano. Aplicações como o Tesouro Selic, CDBs de grandes bancos ou fundos de liquidez diária podem entregar retornos mensais próximos a 1%, com baixo risco e alta liquidez.

Independentemente da fase de vida, um ponto fundamental é a constituição da reserva de emergência. Essa reserva deve cobrir, em geral, de 6 a 12 meses do custo de vida do investidor e deve ser aplicada em produtos de liquidez diária, como o Tesouro Selic, CDBs com resgate imediato ou fundos conservadores. A função da reserva é proteger o investidor de imprevistos, como perda de renda ou emergências médicas, evitando o resgate forçado de investimentos de longo prazo.

Começar a investir o quanto antes é crucial para o sucesso financeiro no longo prazo. O efeito dos juros compostos é mais potente quanto maior for o tempo de aplicação. Por isso, recomenda-se iniciar com a reserva de emergência e, a partir daí, diversificar o portfólio entre diferentes classes de ativos — sempre respeitando o perfil de risco e os objetivos financeiros pessoais.

Por fim, é sempre recomendável contar com a orientação de um planejador financeiro certificado, que poderá estruturar uma carteira de investimentos adequada às necessidades e realidade de cada investidor.

Marlan Morais é planejador financeiro pessoal e possui a certificação CFP® (Certified Financial Planner), concedida pela Planejar - Associação Brasileira de Planejamento Financeiro.
E-mail:
mmarlanmoraes@gmail.com

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