Pressão social pesa nas decisões financeiras?

7 de jul. de 2025

Carolina Roveda, CFP®, responde:

Fazer parte de um grupo é da natureza do ser humano, essa condição traz maior sensação de segurança e de força para busca de objetivos em comum. Mas como hoje em dia se entende que se faz parte de um grupo?

Muito provavelmente a característica que mais responde essa pergunta é: o hábito. Os hábitos colocam as pessoas como pertencentes ou não a um grupo. Para entender um pouco dessa reflexão, basta observar como alguns grupos se formam. Tem o grupo de corrida, o grupo do futebol, o grupo de mães, o grupo dos pais de pet, o grupo dos solteiros... e mais uma infinidade.

Todos eles têm em comum a necessidade do parecer. Então, para realmente pertencer, não basta ser. Isso faz com que seja necessário consumir coisas que muitas vezes podem até não fazer muito sentido.

Mas então por que não se diz não? Existe uma expressão que se chama FOMO – Fear of Missing Out, ou Medo de Ficar de Fora, medo de não ser aceito, de não fazer parte do grupo. O consumo passa, então, a ser uma forma de comunicação. Esse medo é o que na maioria das vezes desperta o desejo do consumo e faz com que pessoas adquiram itens que não precisavam e que nem mesmo cabiam no seu orçamento, tendo como consequência o endividamento.

As empresas, com objetivo de maximizar seus lucros, elaboram estratégias que buscam apresentar seus produtos criando uma conexão emocional com o público, relacionando a aquisição daquele produto com um lugar de destaque na sociedade.

Mas vamos além, vamos pensar sobre as consequências de agir dessa forma e sobre o que pode ser feito para não cair nessas armadilhas.

Não raro as pessoas são acometidas de um forte sentimento de arrependimento logo após a compra por impulso ter acontecido. Mas a principal consequência é o endividamento ou até mesmo o comprometimento de objetivos de médio e longo prazo pela sensação de pertencimento que esse consumo imediatista dá. O principal fator que leva as pessoas a se endividarem são as compras por impulso, que hoje são ainda mais facilitadas pelas redes sociais que provocam a comparação a todo momento e pela facilidade de realizar compras pela internet com apenas um clique. Segundo o Serasa, hoje já são mais de 73 milhões de brasileiros endividados.

As consequências desse endividamento vão além do comprometimento das finanças, elas afetam diretamente a saúde mental. A maioria destas pessoas sofre de insônia, ansiedade, dificuldade de concentração, depressão e vergonha da situação em que está. Com todos esses sentimentos, as relações sociais são diretamente prejudicadas: casamentos são desfeitos, pais e filhos entram em combates e amizades acabam.

Por isso que buscar entender sobre educação financeira, ter consciência dos seus custos e ter um planejamento financeiro organizado são mecanismos fundamentais.

Organizar uma reserva de emergência e definir objetivos irão ajudar a não correr o risco de se endividar em um imprevisto, e a conseguir dizer não de forma mais segura, pois haverá clareza de onde se quer chegar.

Não é possível controlar os estímulos que serão recebidos, mas é possível se organizar a ponto de não se deixar ser seduzido por eles. Um planejamento financeiro bem-organizado vai ajudar a dizer os nãos que precisam ser ditos e vai deixar as pessoas tranquilas com isso, pois conhecerão seu perfil e objetivos e com isso saberão que estão negando um prazer imediato em nome de um objetivo maior.

Carolina Roveda é planejadora financeira pessoal e possui a certificação CFP® (Certified Financial Planner), concedida pela Planejar - Associação Brasileira de Planejamento Financeiro. E-mail: cacasmr@gmail.com

As respostas refletem as opiniões da autora, e não do jornal Valor Econômico ou da Planejar. O jornal e a Planejar não se responsabilizam pelas informações acima ou por prejuízos de qualquer natureza em decorrência do uso destas informações. Perguntas devem ser encaminhadas para: consultoriofinanceiro@planejar.org.br