Como se planejar para a “inflação invisível” das assinaturas digitais?

No cenário econômico atual, a inflação é um tema constante, impactando diretamente o poder de compra. No entanto, uma forma mais sutil de aumento de custos afeta silenciosamente o orçamento familiar: a “inflação invisível” das assinaturas digitais. Este fenômeno, caracterizado pelo acúmulo gradual e muitas vezes despercebido de serviços de streaming, aplicativos e outras plataformas online, pode corroer as finanças pessoais.

A “inflação invisível” refere-se ao aumento imperceptível dos gastos com serviços digitais. Diferente da inflação tradicional, ela ocorre quando o consumidor acumula diversas assinaturas, muitas vezes sem perceber o impacto total no orçamento. A facilidade de contratação e a recorrência automática agravam o problema, tornando o cancelamento mais complexo que a adesão.

O Brasil vive um crescimento exponencial no consumo de serviços digitais. Pesquisa realizada pela empresa brasileira de bandeira de cartão Elo, indica que os gastos com esses serviços cresceram 192% entre janeiro de 2020 e o primeiro trimestre de 2024. Esse aumento é impulsionado pela popularização de plataformas de streaming, aplicativos de entrega e softwares de produtividade. A conveniência e o acesso facilitado contribuem para a rápida adesão, mas também para o acúmulo de assinaturas que, somadas, podem pesar no bolso.

A soma de pequenas cobranças recorrentes pode comprometer o orçamento. Outra pesquisa, essa da Confederação Nacional do Comércio (CNC), revelou que, em média, 70,5% da renda do brasileiro está comprometida com dívidas e contas fixas. As assinaturas digitais, embora pareçam insignificantes individualmente, contribuem para esse cenário de endividamento, especialmente sem um controle rigoroso.

Diante disso, a educação financeira é essencial. Nossa recomendação como planejador financeiro seria adotar as seguintes estratégias no dia a dia:

1. Mapeie suas assinaturas: crie uma planilha ou use um aplicativo para listar todas as suas assinaturas e seus custos. Você pode se surpreender com o total.

2. Avalie a real necessidade: questione a utilidade de cada serviço. Cancele os que não são prioritários ou que podem ser substituídos por alternativas gratuitas.

3. Crie um orçamento: defina um teto de gastos para assinaturas digitais. Isso ajuda a evitar novas adesões por impulso e a manter os gastos sob controle.

4. Use períodos de teste a seu favor: aproveite os testes gratuitos para avaliar se o serviço realmente atende às suas necessidades antes de se comprometer com uma assinatura paga. Crie lembretes para cancelar antes do fim do período de teste, se necessário.

5. Busque planos familiares: para serviços usados por mais de uma pessoa, verifique a possibilidade de aderir a planos familiares, reduzindo o custo individual.

6. Negocie e revise: não hesite em negociar com os provedores e faça revisões periódicas de suas assinaturas. Muitas empresas oferecem descontos, e a revisão constante evita gastos desnecessários.

Gerenciar as assinaturas digitais de forma eficaz é crucial para manter a saúde financeira. Ao seguir essas dicas, você pode evitar a “inflação invisível” e garantir que seu dinheiro esteja sendo gasto de forma consciente e inteligente. A Planejar reforça a importância da educação financeira como o principal antídoto contra o endividamento e o consumo excessivo. Ao adotar uma postura mais consciente, você estará no caminho certo para uma vida financeira mais saudável e equilibrada.

Michel Borges Ferreira Pires, CFP ® é planejador financeiro pessoal e possui a certificação CFP® (Certified Financial Planner), concedida pela Planejar - Associação Brasileira de Planejamento Financeiro. Email: michelpires@gmail.com

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