Qual é o impacto da ‘tokenização’ no mercado de capitais?

29 de set. de 2025

Carlos Castro, CFP®, responde:

Nos últimos anos, a digitalização dos mercados financeiros tem impulsionado inovações que antes pareciam distantes. Entre elas, a tokenização de ativos vem ganhando espaço nas discussões sobre o futuro do mercado de capitais. Mas, afinal, o que é tokenização e como ela pode impactar o ambiente de investimentos?

De forma simples, tokenizar significa transformar um ativo físico ou financeiro em um token digital, registrado em uma blockchain, uma tecnologia que funciona como um livro-razão digital, seguro e compartilhado. Isso permite registrar, acompanhar e validar transações de modo descentralizado e transparente.

Na prática, os tokens representam frações de ativos reais como imóveis, obras de arte, cotas de fundos, ações, contratos ou commodities. Assim, um ativo de alto valor pode ser dividido em pequenas partes, acessíveis a mais investidores. Imagine, por exemplo, um imóvel avaliado em R$ 2 milhões. Por meio da tokenização, ele pode ser fracionado em 2 mil tokens de R$ 1 mil, permitindo que mais pessoas participem desse investimento sem grandes aportes.

Esse processo utiliza contratos inteligentes, os chamados smart contracts, que garantem que direitos e obrigações vinculados aos tokens sejam executados automaticamente e de forma transparente. A blockchain assegura rastreabilidade total e proteção contra fraudes. É importante destacar que, embora seja uma tecnologia de base global, a emissão, negociação e custódia de tokens no Brasil seguem regras da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e do Banco Central (BC).

A tokenização tem potencial para trazer mais eficiência, liquidez e democratização no acesso a ativos. Isso significa que investidores podem acessar mercados antes restritos a grandes instituições ou investidores qualificados. Entre os principais benefícios estão o aumento da liquidez de ativos tradicionalmente ilíquidos, como imóveis e participações societárias, e a redução de custos, pois a tecnologia permite eliminar intermediários e simplificar processos. Além disso, amplia o acesso, permitindo que pequenos investidores participem de oportunidades que antes exigiam altos volumes de capital.

Por outro lado, também há desafios importantes. A regulação ainda está em desenvolvimento e precisa acompanhar o avanço da tecnologia, garantindo segurança jurídica e proteção aos investidores. A segurança cibernética merece atenção, pois, apesar da robustez da blockchain, riscos como fraudes e ataques cibernéticos permanecem. Outro ponto crítico é a necessidade de padronização dos contratos inteligentes e dos próprios tokens, o que traz previsibilidade e segurança às operações. Soma-se a isso o fato de que a liquidez prometida dependerá da existência de mercados secundários eficientes e regulamentados.

Diante desse cenário, o trabalho de um planejador financeiro torna-se ainda mais relevante. Profissionais com certificação CFP® estão preparados para orientar seus clientes sobre essas inovações, avaliando se a exposição a ativos tokenizados faz sentido dentro de um planejamento financeiro bem estruturado, alinhado ao perfil de risco, aos objetivos e ao horizonte de cada investidor. Por exemplo, quem busca diversificação e tem maior tolerância ao risco pode avaliar incluir ativos tokenizados vinculados a setores como agronegócio, mercado imobiliário ou infraestrutura. Já para investidores mais conservadores, essa modalidade pode não ser adequada, especialmente considerando questões como liquidez e regulação em evolução.

A tokenização de ativos representa uma evolução importante no sistema financeiro e pode, sim, transformar o mercado de capitais, tornando-o mais acessível, dinâmico e eficiente. Porém, como qualquer inovação, exige cautela, compreensão dos riscos e alinhamento com os objetivos individuais.

Carlos Castro é planejador financeiro pessoal e possui a certificação CFP® (Certified Financial Planner), concedida pela Planejar - Associação Brasileira de Planejamento Financeiro. E-mail: carlos.castro@superrico.com.br

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Confira a publicação original do artigo: Valor Econômico