Quais métricas são essenciais para avaliar o desempenho de fundos de cobertura?

12 de mai. de 2025

Bruno Cruz, CFP®, responde:

Os fundos de cobertura (hedge funds) utilizam uma ampla gama de estratégias para maximizar retornos ajustados ao risco. No entanto, para uma análise eficaz, é fundamental considerar mais do que apenas os retornos. O desempenho desses fundos deve ser avaliado sob diferentes perspectivas, equilibrando risco, consistência e liquidez.

O primeiro ponto de atenção é a relação entre retorno absoluto e retorno relativo. O retorno absoluto mostra o ganho ou a perda total do fundo, enquanto o retorno relativo compara esse desempenho a um benchmark, como o S&P 500 ou o CDI. Se um fundo entrega 8% ao ano, mas o mercado sobe 12%, isso indica uma subperformance, tornando essencial diferenciar retornos decorrentes da gestão ativa daqueles que simplesmente acompanham o mercado.

No entanto, analisar retornos isoladamente é insuficiente. Para avaliar o risco assumido, métricas como o Índice de Sharpe e o Índice de Sortino ajudam a entender a eficiência da gestão. O Sharpe mede o retorno excedente por unidade de risco total, enquanto o Sortino foca apenas na volatilidade negativa, sendo mais adequado para investidores que buscam evitar quedas acentuadas.

A análise de drawdown e de perda máxima também é crucial. O drawdown mede a maior queda acumulada no valor do fundo antes de uma recuperação, revelando o impacto de períodos turbulentos. Um fundo pode até apresentar altos retornos no longo prazo, mas, se um investidor precisar enfrentar quedas de 40% ou 50%, a decisão de permanecer investido se torna desafiadora.

Outro indicador essencial é o Beta, que mede a sensibilidade do fundo às oscilações do mercado. Se o Beta for maior que 1, o fundo tende a ser mais volátil que o mercado; se for menor, indica menor exposição ao risco sistêmico. Mas o verdadeiro diferencial da gestão está no Alfa, que mede a capacidade do gestor de gerar retornos superiores ao benchmark, ajustados pelo risco. Um Alfa positivo sugere gestão eficiente, enquanto um Alfa negativo indica subdesempenho.

A consistência dos retornos é outro fator determinante. Um fundo que supera o benchmark em 9 de 12 meses demonstra maior previsibilidade e pode ser mais atrativo para investidores que valorizam estabilidade. No entanto, essa regularidade deve ser analisada junto à volatilidade, que mede a amplitude das oscilações de retorno. Fundos com baixa volatilidade tendem a ser mais estáveis, mas isso não significa, necessariamente, maior rentabilidade.

A liquidez do fundo também merece atenção. Em momentos de crise, um fundo pode ter boas estratégias e gestão eficiente, mas, se o investidor não conseguir resgatar seus recursos rapidamente, ele pode enfrentar prejuízos inesperados. Embora fundos com menor liquidez possam oferecer maiores retornos no longo prazo, exigem um horizonte de investimento mais amplo e tolerância a períodos de restrição de saques.

A avaliação de fundos de cobertura exige uma análise abrangente e estruturada. Nenhuma métrica isolada é suficiente para capturar a complexidade desses fundos. Retorno, risco, consistência e liquidez devem ser analisados em conjunto para permitir uma decisão bem fundamentada. O investidor ideal não busca apenas altos retornos, mas sim o melhor retorno ajustado ao risco, alinhado ao seu perfil de investimento e aos seus objetivos financeiros.

Bruno Cruz Riccio é planejador financeiro pessoal e possui a certificação CFP® (Certified Financial Planner), concedida pela Planejar - Associação Brasileira de Planejamento Financeiro. E-mail: bruriccio@hotmail.com

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