
O que o investidor pessoa física deve olhar na COP30?
10 de nov. de 2025
Jaques Cohen, CFP®, responde:
A COP, Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima, pode parecer distante da composição de um portfólio, dos riscos e dos objetivos de um investidor. Em parte, isso é verdade: muitas promessas feitas nesses encontros não têm mecanismos de cobrança e, em geral, não afetam de imediato a bolsa ou os juros. Ainda assim, há correlações que merecem análise.
Primeiro, o evento ocorre em um contexto geopolítico turbulento, no qual predomina a incerteza sobre as relações comerciais entre países. Como a pauta ambiental divide os atores, ainda que muitas vezes só no discurso, não podemos descartar essa arena como fonte de ruído e volatilidade.
Além disso, alterações físicas previstas pela ciência afetam as economias de forma concreta e material. O clima da Amazônia influencia safras no Centro-Oeste; correntes oceânicas ligadas ao degelo nos polos podem mudar padrões climáticos globais; cidades enfrentam risco maior de enchentes e ondas de calor. Tudo isso pode significar choques na produção, nas cadeias logísticas, nos preços de insumos e até nas contas públicas. O risco físico sempre existiu, porém fala-se agora no aumento da frequência e intensidade de eventos extremos.
Outra via de impacto nos ativos é a regulação. O Protocolo de Kyoto (1997) estabeleceu metas vinculantes, mas perdeu força ao deixar emergentes, como a China, de fora e sem a adesão dos EUA. Já o Acordo de Paris (2015) adotou um modelo mais flexível, no qual cada país define sua meta sem punições. Recentemente, a saída dos EUA do acordo reforçou o ceticismo dos agentes.
Se metas compatíveis com os riscos físicos fossem adotadas, setores de alta emissão absorveriam custos sociais e seriam mais afetados, enquanto renováveis ganhariam impulso. A contrapartida, ainda que lenta, é a movimentação na esfera privada. A construção de parques eólicos e solares, por exemplo, vem se tornando mais atrativa financeiramente e deve ganhar espaço.
A celeridade demandada pelos cientistas se coloca porque gases como o carbono podem permanecer na atmosfera por séculos, acumulando impactos. O que acontece, pode ser descrito na economia pela teoria dos jogos: como não há penalidades nos acordos, cada país arca individualmente com impactos políticos e econômicos da transição, enquanto as consequências são coletivas. Um equilíbrio melhor até poderia ser alcançado, mas os incentivos de curto prazo afastam os agentes da cooperação e os empurram para os cenários menos eficientes.
Nesse cenário, muito se fala sobre créditos de carbono. Porém, segundo o Banco Mundial, menos de 1% das emissões estão precificadas em um patamar capaz de induzir reduções consistentes. Sem acordos globais que estabeleçam limites nacionais, não se cria demanda efetiva pelos papéis. A maior parte das negociações ainda ocorre em mercados voluntários. Em tempo: o Brasil está criando o Sistema Brasileiro de Comércio de Emissões (SBCE), que pode estimular projetos de reflorestamento.
Se de um lado a materialidade dos riscos é da ordem da física, de outro, a incorporação plena dos custos depende dos movimentos sociais. Keynes comparava a dinâmica dos mercados aos concursos de beleza de jornal, em que vencia quem adivinhava a escolha da maioria, independentemente de quem fosse considerado mais bonito de fato.
Não podemos menosprezar, no entanto, que investimentos também são aportes nos futuros que queremos construir. O leitor interessado nesse alinhamento pode se atentar a estruturas que buscam aliar retorno financeiro a impacto socioambiental. Um exemplo é o blended finance, em que fundos públicos ou filantrópicos assumem parte do risco para tornar projetos mais atrativos aos investidores.
Com isso, quero lembrar que as decisões do investidor são sempre muito particulares. Dependem do seu perfil, valores, objetivos e horizonte de investimentos. A COP, nesse sentido, dificilmente será um gatilho de curto prazo, mas deve sinalizar tendências.
Jaques Cohen é planejador financeiro pessoal e possui a certificação CFP® (Certified Financial Planner), concedida pela Planejar - Associação Brasileira de Planejamento Financeiro.
E-mail: projetos@naturezaeconomica.com.br
As respostas refletem as opiniões do autor e não do jornal Valor Econômico ou da Planejar. O jornal e a Planejar não se responsabilizam pelas informações acima ou por prejuízos de qualquer natureza em decorrência do uso destas informações. Perguntas devem ser encaminhadas para: consultoriofinanceiro@planejar.org.br

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