Fundos exclusivos: qual o efeito fiscal das mudanças?

2 de jun. de 2025

Milena Brandão, CFP®, responde:

No final de 2023, a tributação dos fundos exclusivos passou por mudanças que impactam diretamente os investidores de alta renda no Brasil. A principal alteração foi a introdução da tributação semestral, eliminando o diferimento do imposto sobre os rendimentos acumulados. Essa mudança exige uma revisão das estratégias patrimoniais para manter a eficiência fiscal e a rentabilidade dos investimentos.

O que eram os fundos exclusivos antes da mudança?

Antes da alteração na regra, os fundos exclusivos tinham uma característica vantajosa: a tributação ocorria apenas no momento do resgate. Isso permitia que o capital ficasse investido por anos sem a necessidade de pagar imposto sobre os rendimentos, maximizando o efeito dos juros compostos.

Esse modelo era amplamente utilizado no Brasil. Segundo um estudo da Mais Retorno, existem 1.507 fundos exclusivos no país, somando um patrimônio de R$ 160,2 bilhões, distribuído entre 1.812 cotistas. Com a nova regra, todos esses investidores passaram a ter um impacto fiscal recorrente em suas carteiras.

O que mudou na tributação?

Desde janeiro de 2024, os fundos exclusivos passaram a ser tributados pelo mecanismo de come-cotas, que antecipa a cobrança do imposto duas vezes ao ano. As alíquotas aplicadas são:

 

15% para fundos de longo prazo;

20% para fundos de curto prazo.

 

Além disso, foi aplicada uma tributação retroativa sobre os rendimentos acumulados até 31 de dezembro de 2023. O investidor pode optar pelo pagamento à vista, com alíquota reduzida de 8%, ou parcelar o imposto em até 24 meses, com uma alíquota de 15%.

Impactos no planejamento patrimonial

O principal impacto para os investidores foi a perda do diferimento do imposto. Com o come-cotas, parte do capital que antes ficaria investido a longo prazo agora é tributada semestralmente, reduzindo o efeito dos juros compostos e exigindo maior planejamento para manter a eficiência da carteira.

Para os mais de 1.800 cotistas de fundos exclusivos no Brasil, a mudança significou um ajuste imediato na gestão patrimonial. Com a tributação recorrente, muitos investidores passaram a avaliar novas alocações para minimizar o impacto fiscal.

O que considerar daqui para frente?

 

Diversificação de investimentos – Buscar alternativas isentas de IR, como debêntures incentivadas, CRIs e LCIs, além de considerar o PGBL e o VGBL, que possuem tributação mais eficiente para sucessão.

Estratégia de liquidez – Avaliar a necessidade de manter recursos disponíveis para cumprir o pagamento semestral do imposto e ajustar a composição da carteira conforme necessário.

Planejamento sucessório – Os fundos exclusivos ainda são ferramentas úteis para a estrutura patrimonial, mas podem ser combinados com holdings familiares e outras soluções para otimizar a tributação.

 

A nova tributação dos fundos exclusivos trouxe uma mudança significativa para investidores de alta renda no Brasil. A antecipação do imposto impacta a rentabilidade a longo prazo, exigindo ajustes estratégicos para manter o crescimento do patrimônio. Nesse novo cenário, revisar a alocação de ativos e adotar soluções tributárias eficientes tornou-se essencial. Afinal, um planejamento bem estruturado continua sendo a melhor ferramenta para preservar e multiplicar patrimônio.

 

Milena Brandão de Oliveira é planejador financeiro pessoal e possui a certificação CFP® (Certified Financial Planner), concedida pela Planejar - Associação Brasileira de Planejamento Financeiro. E-mail: milenabrp@gmail.com

As respostas refletem as opiniões do autor, e não do jornal Valor Econômico ou da Planejar. O jornal e a Planejar não se responsabilizam pelas informações acima ou por prejuízos de qualquer natureza em decorrência do uso destas informações.